Eleitores de municípios maranhenses que deram mais de 80% dos votos à presidente se dizem arrependidos
De O Globo
A
popularidade da presidente Dilma Rousseff despencou em povoados pobres
do Maranhão, onde, há apenas oito meses, ela obteve mais de 80% dos
votos válidos no segundo turno da eleição. A crise econômica, o
descumprimento de promessas de campanha e a corrupção na Petrobras
revelada pela Operação Lava-Jato são criticados por moradores em
conversas em frente a casebres de barro e telhados de palha.
O
descontentamento é explicitado também nas casas de produção artesanal
de farinha, onde famílias e pequenos produtores tiram da mandioca seu
alimento básico.
Reações de decepção e
revolta foram registradas em cinco municípios: Igarapé do Meio,
Pindaré-Mirim, Alto Alegre do Maranhão, Rosário e Olho D’Agua das
Cunhãs. Em todos, Dilma obteve votação avassaladora no segundo turno:
89,06%, 87,22%, 85,44%, 87,58% e 88,23%, respectivamente.
Basta
abordar os moradores para ouvir as críticas. Jerônimo Nogueira, de 53
anos, pequeno produtor rural de Alto Alegre do Maranhão, a 250
quilômetros de São Luís, diz-se “arrasado” com a situação do país. Em
sua propriedade de 50 hectares, ele produz mandioca, milho, feijão e
arroz e tem um pequeno rebanho de 15 vacas.
—
A situação está muito difícil. A gente produz e não consegue vender. A
presidente poderia cuidar da população, mas fica brigando por poder —
afirmou Jerônimo.
O GLOBO localizou
dois empregados diaristas na casa de farinha do agricultor Luiz Pinto,
de 68 anos. Todos os elos da cadeia produtiva reclamavam da situação do
país. Um dos empregados, Manoel Rodrigo do Nascimento, de 32, que recebe
R$ 15 por saco produzido, queixou-se da conta de luz. Disse que tem uma
geladeira pequena, uma TV “que só pega na pancada” e ventilador, e que
pagou R$ 88 este mês:
— Quem trabalha não tem valor — deduziu.
O dono da casa de farinha, que fica com 10% da produção, afirmou ter mais de 20 sacos estocados sem comprador.
Raimundo
Alves, de 64, tem uma casa de farinha em Igarapé do Meio (a 162
quilômetros de São Luís) também usada por pequenos produtores locais. Ao
mostrar seu estoque de farinha sem comprador, disse que começou a
vender fiado. Em relação à presidente avalia que ela “se perdeu” e que a
corrupção é a principal causa dos problemas.
No
pequeno povoado de Telêmaco, no município de Olho Dágua das Cunhãs, a
287 quilômetros de São Luís, o vaqueiro Raimundo Nonato Rodrigues, de 42
anos, acompanha as notícias pela TV. Ele disse que não entende por que
tudo desandou de repente:
— Eu me
sinto traído. Dilma apontou um rumo durante a campanha e mudou tudo
depois que ganhou a eleição. (…) Se a presidente se candidatar outra vez
vai sofrer uma derrota muito grande no Maranhão.
Segundo
o vaqueiro, Dilma é vista no povoado como corresponsável pelo desvio de
dinheiro da Petrobras, por não ter impedido o desvio.
—
O roubo na Petrobras foi uma falta de vergonha dos políticos. Sou pai
de família e meus filhos ficariam envergonhados se eu fizesse algo
errado. O país está envergonhado — disse o lavrador Antônio Ferreira
Cruz, de 37 anos, do povoado de Telêmaco.
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