PMDB reage e escolhe Lobão para presidir comissão


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Lobão presidirá comissão no Senado

O senador Edison Lobão iniciou ontem uma reação à inclusão do seu nome na lista dos suspeitos de participar do esquema de corrupção na Petrobras, segundo denúncias do ex-diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Yousseff, nos depoimentos que prestaram à Polícia Federal na Operação Lava-Jato. O senador maranhense e ex-ministro de Minas e Energia foi escolhido pelo PMDB para presidir a Comissão de Assuntos Sociais do Senado. A decisão foi tomada por unanimidade na bancada do partido, a maior da Casa, depois de definir a composição de outras Comissões. Lobão será formalmente eleito na próxima semana, provavelmente quarta-feira (18).
Com a decisão do partido, o senador maranhense sai do casulo onde se resguardou desde que rumores indicavam que ele seria incluído na lista de suspeitos encaminhada ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador geral da República, Rodrigo Junot. A iniciativa do PMDB é parte de uma estratégia de prestigiar membros do partido alcançados pela Operação Lava-Jato, entre os quais Lobão é um dos mais destacados, juntamente com o presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Nas articulações iniciais para a formação das comissões permanentes do Senado, as lideranças do PMDB chegaram a cogitar a indicação do senador Edison Lobão para a presidência da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, de longe a mais importante da Câmara Alta. Ontem, a ideia inicial foi revista, provavelmente a pedido do próprio senador maranhense, que ficaria muito exposto nesse momento delicado da sua trajetória, mesmo levando em conta o fato de que o presidente Renan Calheiro, integrante da lista de suspeitos, não admite sequer a possibilidade de discutir sua permanência na presidência do Senado e do Congresso Nacional. Também outros senadores integrantes da lista, incluindo os do PT, não aceitam se afastar dos cargos que ocupam na Mesa Diretora e nas comissões da instituição.
Dono de um perfil político marcado por atuações abrangentes, mas discretas, o senador Edison Lobão se manteve em silêncio até agora sobre a denúncia do procurador geral da República ao STF. Sua única declaração a respeito do assunto foi dada à coluna dias antes da divulgação da lista, quando a inclusão do seu nome ainda era motivo de especulação na imprensa. “Não tenho nada com isso”, declarou, numa conversa por telefone. De lá para cá ele se recolheu ao seu gabinete, de onde saiu poucas vezes, algumas para reuniões na bancada do PMDB e outras para votações no plenário. Não recebeu jornalistas nem deu declarações por meio de assessores. Não se sabe se em seu nome, o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, que vai defendê-lo no inquérito, disse que “palavra de delator não tem valor algum”.
A decisão do PMDB de eleger Lobão para a presidência da Comissão de Assuntos Sociais é uma demonstração de que ele tem o apoio político do seu partido, o que, na circunstância, é um alento, sem dúvida. Mas esse suporte partidário não muda o fato de que ele foi incluído numa lista de suspeitos de serem beneficiados por um esquema de corrupção que sugou os cofres da Petrobras, no que, a julgar pelos valores, pelo tempo de duração e pelo número de políticos e empresários supostamente envolvidos, já entrou para a crônica nacional como um dos maiores escândalos do Brasil em todos os tempos. O senador terá direito a provar que a acusação não tem lastro e que ele foi vítima de uma trama ou de um equívoco.
O PMDB se vale de um argumento tecnicamente correto, levantado pelo próprio ministro Teori Zavascki, do STF, segundo o qual o que está em curso é uma investigação, baseada em depoimentos de delatores, que assumiram seus crimes e indicaram outros 47 nomes, todos políticos, entre eles o senador Edison Lobão e a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Roseana, que está em Miami (EUA), de onde deve retornar na semana que vem, reagiu oficialmente, por meio de nota divulgada por assessores, afirmando estar “perplexa” e “indignada” com a inclusão do seu nome na lista de suspeitos. Os dois contrataram o mesmo advogado, que a defendeu no Caso Lunus, ocorrido exatamente em março de 2002, do qual ela saiu inocentada, inclusive com a devolução da bolada de mais de R$ 1 milhão encontrada pela Polícia Federal em cofre da empresa.
A decisão do PMDB alcança também o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), favorecendo, por tabela, o deputado Waldir Maranhão (PP), vice-presidente da Câmara e um dos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Se Eduardo Cunha, como Renan Calheiros, não se afastarem dos seus cargos, Waldir Maranhão também não terá maiores razões para abrir mão de um dos assentos mais importantes da República.
Em resumo: a ordem no PMDB é encarar os inquéritos instaurados pelo STF como uma investigação, que vai demorar e que poderá ser concluída com a abertura de processo ou não na Corte de Justiça maior do país, quando os réus terão direito a ampla defesa, podendo, ao final, serem ou não condenados. Até lá, o PMDB e o senador Edison Lobão vão tentar seguir em frente sem atitudes radicais.

PONTOS & CONTRAPONTOS

Reviravolta na bancada
O PMDB ganhou ontem mais um voto na Câmara Federal com a diplomação do deputado Alberto Filho. O jovem político bacabalense tivera seu diploma cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MA) com a validação dos votos do suplente Deoclídes Macedo (PDT), que permitiu a diplomação do 1º suplente Julião Amim, que foi nomeado secretário pelo governador Flávio Dino, abrindo caminho para o ex-prefeito de Porto Franco. Com o apoio total dos comandos estadual e nacional do PMDB, que não medem esforço para reforçar sua bancada, Alberto Filho foi à luta e recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral, que cassou a decisão do TRE-MA, mantendo inválidos os votos de Deoclídes Macedo e devolvendo o mandato a Alberto Filho. A decisão do TSE foi cumprida ontem à tarde com a diplomação do parlamentar, que seguiu imediatamente para Brasília, para assumir sua cadeira na Câmara Baixa.
Festa do PCdoB
O comando nacional do PCdoB deve estar soltando rojões de felicidade. Explica-se: além do governador Flávio Dino, o primeiro mandatário comunista eleito do país, o partido tem agora um dos seus deputados temporariamente no comando da Assembleia Legislativa, Othelino Neto, que assumiu a presidência do Poder Legislativo com o afastamento do presidente Humberto Coutinho (PDT), que se licenciou para se submeter a uma cirurgia. Trata-se, como se vê, de uma situação inédita na história da agremiação, que nasceu em 1962 com um racha no velho PCB nascido em 1922. Um detalhe tira o brilho desse momento histórico do PCdoB no Maranhão: o deputado Othelino Neto ainda não é um comunista roxo. Ele nasceu político no PDT, e numa carreira eletrizante passou por PSDB, PPS e finalmente aportou no PCdoB. Mas está no partido, se elegeu por ele e poderá se tornar um defensor da versão maranhense dos postulados do marxismo-leninismo.

Atrás do PROS
Não foi fácil para o ex-deputado Gastão Vieira obter o controle do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) no Maranhão. Várias lideranças tentaram puxar a legenda para suas órbitas de influência, mas não conseguiram, porque o ex-pemedebista chegou primeiro. Corre nos bastidores que o deputado Edivaldo Holanda (PST) teria procurado o comando do PROS para conversar sobre o futuro do partido no Maranhão. Também o deputado Edilázio Jr., integrante do PV, teria manifestado à direção interesse em se tornar o titular da agremiação no estado. Outras lideranças de menor quilate também se movimentaram na mesma direção, mas chegaram tarde.

Guerra do Anzol
Como previu na sua segunda edição, a coluna vê iniciada a “Guerra do Anzol”, a ser travada entre os deputados Fernando Furtado (PCdoB), Édson Araújo (PSL) e Júnior Verde (PRB), eleitos com votos de pescadores e que enfrentam as mais diversas acusações, principalmente em relação ao uso eleitoreiro do seguro-defeso, um salário que os pescadores recebem durante os quatro meses da piracema, época da reprodução dos peixes em que a pesca é proibida. Ontem, o jornal O Imparcial estampou o confronto na sua 1ª página, sustentando a manchete com uma reportagem na sua editoria de Política. Os três deputados foram ouvidos, mas as suas declarações não esclareceram as muitas dúvidas sobre o assunto e as muitas sombras que pairam sobre os seus mandatos. Quem se mostrou mais na defensiva foi Júnior Verde, cujo irmão, deputado federal Cléber Verde (PRB), teve muita influência no Ministério da Pesca no governo passado, quando a pasta foi comandada pelo senador (PRB). Tudo indica que muito mais está a caminho.

Sem volta
A família do ex-governador Jackson Lago, hoje filiada ao PPS, teria sido sondada para retornar ao PDT. A resposta da ex-primeira-dama Clay Lago e do filho e herdeiro político do ex-governador, Igor Lago, teria sido um sonoro “não”.
São Luís, 11 de Março de 2015.

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